30 janeiro 2016

Nymphalidae

Já não tem mais tantas páginas para escrever,
Nem precisa reclamar por mais horas em sono 
Ou usar a yoga para vestir a comoção.
Já não tem mais tantas cenas para atuar. 

Serei alheio às lágrimas (próprias talvez), 
Mesmo com as dores da imanência, 
E arredado dos discursos inflamados 
Nas insones tardes das quintas-feiras.

Afinal, já não há tantas páginas para ler,
Nem serão necessária evocações mitológicas 
Ou se entediar entendendo meus grafismos...
Já não tem mais cenas para atuar! 

Mas por que você quer ler minha cartas?
Por que você que aprecia tanto a letra
E despreza tudo o que hoje, e só hoje, entendi como espírito?
Por que você você que escrever minha crítica, 
Expor sangue marginal 
Aprisionar a minha tagarelice  
Estancar o veio das loucuras
(Num repto colossal),
Se já não há mais cenas para atuar, montar ou dirigir?

Tchau! 

Tornar-me-ei uma borboleta de asas transparentes....

26 dezembro 2015

Com sol, sem cor.

Mas tudo é pendular 
Tudo é escuridão 
Mas também sorriso
Tudo é um pouco de mim 
Mas também extrapola a pele 
Um tanto de todos 
Mas também barro e pedra 
Quero saber o intervalo 
Quero estar no invisível 
O desejo lascivo, laico das madrugadas 
A perturbação sábia da virada do amor
... e dos dias em horas de deuses. 
Quero ser a imaginação científica 
A teoria nova
O definhar do claudicante paradigma 
A figura ainda sem reflexo
Mas já vista por todas as gentes. 
Quero o desenhar do movimento 
Conhecer o lapso
Entre intento e gozo 
A cor verdadeira de cada Sol. 
Mas é tudo tão pendular... 
De tão impertinente, 
Em palavras e meios, comemoro! 


01 novembro 2015

Novembro

Como o velho que faz a primeira tatuagem 
- enviado , por natureza, às águas da liberdade
Canto minhas histórias em versos primitivos
E, a partir do espírito inflamado e combativo, 
- o troço sem substância que mais arde 
Que refaço, com uma deidade renovadora, outra minha imagem. 
[mais uma mais sorriso mais dor]
Riscada no éter do lembrar-se afetivo inventivo 
- agulhas e tinta vivas, velha carne 
Ao discurso normativo, devo pedir passagem, outra linguagem. 
Com a minha cacofonia de símbolos...
Um caleidoscópio de muitas primeiras imagens. 

21 outubro 2015

O beijo de amanhã

Mande-me um beijo
Um cheiro 
Um alívio da vontade 
Uma foto de sorriso 
Uma palavra colorida 
Mande-me um beijo
Um pouco de saliva
Um aperto 
O desejo de olho 
Um chá de querer bem...
Mande-me um beijo
Se mande pra dentro de mim
Me perca em sua pele 
Deixe marcas invisíveis 
Mostre alegria em toda parte 
Mande-me um beijo 
Uma página qualquer 
Qualquer letra mal escrita 
Um sol sem soledade 
Um verso que extirpe a saudade. 
Mande-me um beijo
Num acorde 
Num "bom dia"  de chuva 
Numa flecha 
Numa mandinga displicente. 
Mande-me um beijo 
Com seu perfume 
Com suas inquietações 
Mande tudo com astromélias  e lírios 
E terei arranjos de você.

06 outubro 2015

Mais tempo

A busca por mais tempo
À procura de mais encontros
É o tempo da pedra 
Da folha e da poeira do chão 
Do momento deificado
E da brecha no instante. 
É o sorriso quando escapa dos lábios 
Extrapola o movimento 
Arregaça a inércia da mente
E transforma a miopia dos ouvidos
Num diálogo de olhos embebidos - 
à meia luz.  
A busca por mais tempo 
E de outras tantas novas fotografias 
É o tempo da luz 
Das horas e das flores da calçada 
Do barco apontado para o poente
Em dias de poucas nuvens 
E vermelho leve no cansar do dia. 
É a procura por sentido
Numa inconsciência de borboletas 
Que produz beleza 
Que surge doída
Que voa bendita
Que morre em seguida. 
A busca por mais tempo 
É o amor pulsando vivo
No lapso do olhar 
Na incompreensão das velhas letras. 

16 agosto 2015

Viva ao rei!

Quando se deitam, final, os mortos
Os rotos objetos caem da minha altura 
Cessam reminiscências e projéteis 
Na espiral que me mantinha torto 

Quando se deitam, final, os mortos 
Uma clareira se abre na perspectiva 
O primeiro se identifica com os demais 
E a turba de iguais me arranca do conforto

Quando se deitam, final, os mortos
Os cordéis do títere são expostos   
E é possível ver atrás do espelho
Desejo minha vontade sem esforço 

Quando se deitam, final, os mortos 
Estes vívidos brilhos de outrora 
Não mais se manifestarão sem outorga
No auto de resiliência que transcorro

Quando se deitam, final, os mortos 
A culpa some e tudo é novo 
Um frescor nas veias [tudo é novo]
Os olhos se abrem... do mar ao porto. 

Mais do Mesmo Alívio!!!