30 maio 2023

As asas

é impressionante ver alguém renascer.

ver o desabrochar das próprias asas.

não é como a borboleta em seu casulo,

mas no ser humano que as decide ter.

elas são de um brilho leve e intenso.

prata e ouro dão tom ao encantamento.

não são como as que Ícaro pensou em fazer,

ela são capazes de voos mais profundos.

voar até o seu Sol particular e

em numa galáxia infinita se perder.

é mesmo de arrepiar o renascimento,

este que se dá por uma decisão e

te faz parar de feito louco correr.

como uma supernova no cérebro,

novas ansas arrancam antigas conexões e

fica-se tão poderoso que quem haverá de deter?

asas que não são feitas de penas

em nada lembra figuras angelicais

precisa-se de bons olhos para reconhecer.

os voos e os mergulhos são aquilinos

não se brinca com desejos a esta altura

quando se está alado, o amor para de doer. 

28 maio 2023

A morte das Musas

como seria escrever um poema

que não falasse de amor?

mesmo quando duramente intelectual

sobra um resto. algo de oura cor.


se nasce e se morre dentro do amor

estamos imersos em um tal sistema 

de muitos mitos, guerras, ritos e desatinos 

que provam a universalidade do tema.


na morte? alguém sempre fica

na indiferença? alguém pode sofrer

nos épicos se fala em conquistas e paixões

se não tem amor, melhor não ler


- "Mas é tão cafona hoje em dia"

Imagina se você ouvisse minha  playlist 

Pink Floyd bem pertinho de Belchior 

Pra provar que só o amor, ou sua falta, existe.  


como seria escrever um poema

que só falasse de uma outra coisa e tal?

a resposta não me vem. entrego a pena.

para as Musas seria um golpe mortal. 

26 maio 2023

meus poemas são sempre respostas 

a um deus que por demais esvanece 
uma nuvem que solitária desaparece
quando a poesia está na mesa posta

são também réplicas e tréplicas 
de tantos diálogos e desafios internos
com corações não tão fraternos
onde a lei crua deveras se aplica

meus poemas respondem a outros
como se os versos fossem parceiros 
não importa tanto ter vindo primeiro
se estavam presos desde sempre nos astros.

meus poemas são respostas 
a um sentimento de bem querer
que sobe e desce tal qual ECG
uma coisa voluntária, mas também imposta. 

são também alívios e unguentos
uma reação tão catártica 
umidificando cena tão desértica
trazendo à tona todo discernimento.   

eu não me atrevo a não os escrever
seria uma espécie de clausura 
não existo sem palavras; loucura. 
escrever poemas é minha forma de ser 

18 maio 2023

eu quero o verso quadrado

para deter esta sanha 

de querer ir às entranhas,

neste sentir um tanto inventado.


eu procuro aquilo quase careta,

mas potente e vigoroso.

eu quero mesmo o verso meloso,

que fique bem ao pé da letra.


sou cheio de querer com a poesia

como se ela um dia fosse dar guarida

a esta força igual tal fêmea parida

que só consome, jamais sacia. 


quero o verso cru na mesa

amarrando sílabas e afetos

tornar universal esse dialeto

sarando qualquer menor incerteza


uma onda de palavras, uma súplica

pra falar de amor em versos

e não parecer tudo tão desconexo

como numa mera cena idílica.

15 maio 2023

Eu levanto,

Nem sempre depois de acordar.

Eu dirijo e atendo.

Escuto e intervenho.

É meu jeito de labutar.


Eu ouço e

Tento sempre fazer falar.

Assino a frequência.

Preencho requerimento, e

Com sotaque francês, vou de analisar.


Um após o outro,

Para a cadeira não esfriar.

Tomo um café,

Alongo até o pé,

Ainda não é hora de descansar.


Uma manhã, outra tarde,

Mais um dia para desafiar.

- Olha a saúde mental!

É bem profissional

Sentir os limites e saber respeitar.


Chega a hora do fim

De um dia tão cheio de trabalhar

Pacientes no hospital.

Paciente, em casa, 

Leio poesia após o jantar.

13 maio 2023

E foi assim, 

Um abraço demorado

De namorado.

O balé dos braços 

Nos corpos atados.

Pelos lados.

Pelo alto 

Via-se beijos estalados.


E foi assim 

Que contagiamos,

Diante de outro viver, 

Que anunciamos 

O nosso andar juntos.

Abraçados.

Enlaçados.

Na vida, ombreados

Por amor, ajuntados. 


E foi assim, 

De repente, 

Me peguei sonhando

Te curti dormindo

Amada

Enamorada.

Exaustos.

Foi bem assim

Que fui capturado. 

10 maio 2023

eu escrevo poesias.

ela escreve a vida

em cartas e diários.
nas nuvens e nas folhas
nos pães recém saídos da fornalha…
ele escreve até obituários
de amores,
de ressentimentos,
de tantos sabores
e lamentos.

ela escreve
os mais belos 
poemas e baladas, 
como quem brinca 
com o sentir e o chorar,
o lembrar e o sorrir.
um sorrir chorando.
um lembrar sentindo
as rimas feitas em par.
agora, eu solitário e ímpar. 

eu escrevo eu.
ela, era nós
os nós que demos
em laços desvirados,
desvairados,
doidivanas…
dois devaneios 
em voos solos.
perto do solo,
longe(s) da solidão.

02 maio 2023

Eu te amo como tantas estrelas ainda nascerão,

Como meus pés estão sobre este nosso chão. E

Você inaugura um caminho... Um clarão, 

Um conjunto de memórias: suor, delícia e avião.


Eu te amo como quem desembainha palavras.

Corto o vento. Traço marcas... Madeira entalhada.  

Afago a carne trêmula, ainda que torneada, 

E a rodeio com a palavra só a ti destinada. 


Eu te amo como tantas estrelas ainda nascerão,

Como eu chorei ontem ouvindo uma canção.

Dizer o seu nome para todos já virou repetição

Como se São Paulo ou Bahia fossem a próxima estação.  


Eu te amo como quem faz planos, desenhos...

Sabendo das composições e da necessidade de empenho,

Amo e, a todo custo, meu coração eu mantenho

Só ao alcance de suas mãos... aos incêndios. 



Mais do Mesmo Alívio!!!