22 fevereiro 2011

l.á.g.r.i.m.a.s.

Não sei porquê a lágrima não desce se
já machucou o espírito e atravessou a alma
inundou os neurônios e correu pelos capilares...
cristalizou-se, machucando os olhos, 
na sua frente

Não sei porquê não escorreu em minha face
tão acostumada a trilhos salgados e gotas displicentes
Tão emotivo... hoje demasiado encarcerado
alheio ao acreditar, ao querer, 
ao te ver sorrir

Não sei porquê a lágrima não apeia do fundo
Se os vinhos estragaram, os cálices estão sujos
o lençol está puído e roto – sem calor ou doçura
e há muito que não reconhecemos o que é espelho

Não sei porquê a lágrima – uma só
não se vai e me tira dessa angústia
Não desce e, à medida que caísse, dar-me-ia um nome
ao que me tiraste quando apenas lhe havia emprestado.

17 fevereiro 2011

é.g.o.ï.s.t.e.

Quero
Eu o quero
em grandes saltos
passo a passo
num mergulho profundo
sem segunda chance.

Quero
Eu o quero
para que me deixe livre
no olhar descuidado
em gesto programado
para não me tirar do alcance.

Quero
Eu o quero
desprendendo-se do tempo
acostumado com nosso suor
com a guerra e as flores que trago
dentro do mais ligeiro relance.

Quero
Eu o quero
mas esqueça o romance.

11 fevereiro 2011

r.e.q.u.a.l.q.u.e.r.c.o.i.s.a.

você me faz parar 
como quem fia
recria, alinha
a linha que me guia
já fez tanto pensar
gravar, acumular
como quem toma nota
para se fazer notar
refia
retalia
retina
recomeça
a pousar numa sombra
onde as contas não se espalhem
onde o amor não se repare
ou por nós desfie.

04 fevereiro 2011

d.e.n.g.o.

Estou apaixonado
de novo
do nada
caído
doído
vibrante
estou em braços amantes.

Estou vivo
como o amor
com desejo
ardente
pulsante
dedicado
E por mim sou amado

Estou vivo por estar apaixonado
e assim estou por te ter
por ti, correr
para ti, versar
cantando
recitado
Estou pronto para o dengo prometido

e já declarado.


26 janeiro 2011

m.u.d.a.s.

Espinhela caída... Promessa sem pai ou mãe
Amor em feridas, sem café-da-manhã
Nem mentiras paridas - estas cortesãs -
Que trariam rotas para suas fugas (vãs)

O que foi perdido não traz fungo no peito
Nem caminha feito homem já mofado
Que sofria, o dilema de ter jurado...
Olhar pousado na face; dor... tivesse-se feito?

Amor de juras... Parece-me passatempo
Amor de quem jura, verdade ao relento
O amor que não jura perde o tempo
Pois sem estas não há eficaz unguento

Por que foi embora só com beijo
E com tanta pressa?
Não esperou crescer
As mudas que nos portões se entrelaçavam!

19 janeiro 2011

v.i.v.o.

e agora que você já foi,
que Duda dormiu e
Pedro esqueceu de voltar,
eu vou tomar um café,
lavar a louça,
estudar para o mestrado,
fazer a barba, arrumar o cabelo e sair...

você foi mesmo - percebi agora
Duda mora na Holanda e
Pedro agora volta com os filhos;
eu tenho um bom emprego e
ainda lavo as louças
comecei a estudar (finalmente) fotografia
conheci João - nos damos muito bem

você foi viver

eu vivo.



12 janeiro 2011

p.o.r.t.a.n.t.o.

o que parecia um sonho
hoje não passa de um milímetro

mais um encanto
mais um portanto
mais
é preciso mais
pra deixar de parecer
para sempre poder passar
sem tantos por enquanto
sem aquele entretanto

Aquilo que outrora fora sonho
Vive, hoje, imerso... in memoriam

03 janeiro 2011

U.l.i.s.s.e.s.

Ler Ulisses é cult...
Estudar Anna Freud
Lev Vygotsky e Piaget...
Não se compara quando vejo-o crescer

Seu nome é um sopro
de um Pé-de-Vento...
de um Encantado da anunciação
que brincou com meus olhos 
e deu linha à mente

De tanto querer 
de Joyce
de Odisseu
de Guimarães
daquele velho tio...
és, na mesma medida que não,
meu. 

Ó Ulisses
que tenhas a força 
da espada forjada em ouro
e a suavidade
dos Encantados que lhe abençoam

Ó Ulisses 
dadivoso Ulisses 
brilhas sobre a minha noite
escutas o meu mais insone cantar...
Nomeia-me diariamente
com o nome que te dei!

Mais do Mesmo Alívio!!!