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14 março 2018

Deus também tira folga

Enfrentei, outra vez, a escuridão
Um terror só vislumbrado da beira
Como um simulador de morte certeira
Numa realidade paralela de mesmo corte

Ainda dói cada fibra nervosa
Esgotei cada tecido em câimbras
Dos tremores da dor, outros músculos vingam
Num esforço para não despencar da borda

O que vem com o grito do horror
Do espasmo que contorse e retorce e
Encapsula a sanidade num grilhão
Pesado demais, cansado demais, num intuito vão

A dor da pedra
O ouriço natural
Eu calço a dor e
Expulso a flor de cálcio

Nunca fito os olhos de Medusa
Sofro cego por receio do mergulho
A tentação de homeostase é graúda
E quer acabar com o que é mente, corpo e dúvidas

Tenho sido desafiado por Cérberos
Tenho me extenuado com Kongamotos
Tenho alucinado desfiladeiros sem cor
Tenho tido medo de não voltar da porta

O santo do dia - uma alma fria -
A mestra que segura a chave, a guardiã
Que traz o elixir, não sem me punir,
Com demoras, sorrisos de bondade en passant

A dor deu pedras
De sal e sais
Eu urino terra
E minerais imorais

... e Deus não veio trabalhar.
Décio Plácido Neto, 14.03.2018

13 março 2018

Temporada de pedras

Pinga
Vejo gotejar
Percebo escancarar as entranhas
Quando desce pelo equipo

Tramadol
Morfina
Umas doses de calma
Num corpo que grita

Enfermeiras
Luzes acesas
Afere a pressão, mede temperatura
E meu corpo é só uma massa

Estar no hospital é tão mortal quanto nascer

Pinga antibiótico
Aumenta o antinflamatório
A prisão de ventre
Dá voz a minha dor inconsciente

Qual o aprazamento?
- Pergunto para a pitonisa
O médico não mudou
E os novos bisturis invadem meus ouvidos

Nego a gravidade
Barganho com os Orixás
Aceito a dor nas costas
Converso com meus cálculos renais

Estar no hospital é tão entediante quanto morrer

Pinga
Pinga, enfermeira
Um pingo de humanidade
Neste corpo já tão sem vontades

Goteja lágrimas
Espera o maqueiro
O roupão não cabe
Esse quarto pequeno não cabe qualquer vaidade

Desce pra tomo
Ultrassom e raio x
E o frio só não congela
A tortura de sofrer por qualquer dor

Estar no hospital é tão esquizofrenizante quanto todo dissabor.
Décio Plácido Neto, 13.03.2018

Mais do Mesmo Alívio!!!