Pinga
Vejo gotejar
Percebo escancarar as entranhas
Quando desce pelo equipo
Tramadol
Morfina
Umas doses de calma
Num corpo que grita
Enfermeiras
Luzes acesas
Afere a pressão, mede temperatura
E meu corpo é só uma massa
Estar no hospital é tão mortal quanto nascer
Pinga antibiótico
Aumenta o antinflamatório
A prisão de ventre
Dá voz a minha dor inconsciente
Qual o aprazamento?
- Pergunto para a pitonisa
O médico não mudou
E os novos bisturis invadem meus ouvidos
Nego a gravidade
Barganho com os Orixás
Aceito a dor nas costas
Converso com meus cálculos renais
Estar no hospital é tão entediante quanto morrer
Pinga
Pinga, enfermeira
Um pingo de humanidade
Neste corpo já tão sem vontades
Goteja lágrimas
Espera o maqueiro
O roupão não cabe
Esse quarto pequeno não cabe qualquer vaidade
Desce pra tomo
Ultrassom e raio x
E o frio só não congela
A tortura de sofrer por qualquer dor
Estar no hospital é tão esquizofrenizante quanto todo dissabor.
Décio Plácido Neto, 13.03.2018
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