28 outubro 2014

Alógico

nada me ocorre
nada em meu peito corre
bate,  mas não doe
bate, mas não se mexe
até circula, mas é estático
um alucinação
e nada me ocorre.
falo e só o silêncio escorre
deve ser porque falo com os olhos
olhos de penetrar
boca de fazer chorar
ouvidos que permitem beijar
outra alucinação
e nada me ocorre.
uma escrita cansada
de remédios obnubilada 
sem gosto e com tantas paradas
paradas de outro tempo, alógico 
psicose em franca ação
e nada me ocorre.
talvez deva voltar daqui
mas a vida a cama estão muito quentes...
tenho coração de poeta e mãos de jogador
ou seria
as mãos de um poeta e um coração que há muito parou
nada me ocorre neste instante. 

20 outubro 2014

Destemido

Apaixonar-se é algo definitivamente para os destemidos. O que dizer quando você se apaixona pela ideia daquela coisa ou daquela pessoa. Estou falando de algo diferente do fanatismo, da tietagem, do platonismo. 
Apaixonamento sér
io, com frio na espinha e borboletas imperiais no estômago - com direito à insônia, à escrita de poemas ou à busca de textos, pequenos mimos, que, supostamente, agradariam ao ser em questão.
Mudando as ações dar-se-ia o mesmo por uma coisa - estudar, pesquisar, malhar e um apanhado de comportamentos de aproximação da sua paixão.
Voltando às pessoas...
Não é incrível ter uma pontada de ciúme de alguém que você só reconhece a voz? Mas essa voz, por hora, é tudo que se tem.
Vai chegando o dia do encontro - tudo para ser maravilhoso, afinal já conversamos sobre tudo e nos conhecemos o suficiente.
Engano.
A ideia de alguém pode ser bem diferente deste alguém quando tudo acontece “ao vivo”, pense no risco (o será sempre em qualquer situação) quando isto começa no virtual, de dentro da caverna de Platão.
Parafraseando Euclides da Cunha, o apaixonado é antes de tudo um forte.
Debaixo e acima dos quatro elementos ele quer ver, sentir, testar a própria felicidade do encontro com o que um dia foi verbo e agora se transformou em matéria física.
Telefone não tem cheiro, whatsapp não tem sabor...
Decepção? É uma possibilidade do quebra-cabeça amoroso, mas com isto lidarei quando e se for necessário.



19 outubro 2014

14 outubro 2014

Não é vento!

fico na dúvida 
seria o amor ou a paixão um redemoinho?
uma ideia que gira incessantemente
parecendo mover seu cérebro de lugar
um vento que faz revoar papéis 
um sopro espiralado
que move folhas, galhos secos e coisas não visíveis

os mais velhos e sábios dizem que é Exu
outros, como outras sabedorias, dizem: - é o coisa!

mas estou falando do olho do furacão
de dentro de minha alma que começou a rodar
levando hábitos, costumes e desejos
sem nada edificar ou destruir
apenas confundir uma consciência 
e seus galhos emaranhados e folhas caídas do ego.

fico na dúvida 
seria o amor ou a paixão um redemoinho?

convenções e telhados arrancados
tradições e enchentes
peitos desabrigados e bom senso
promessas e sofrimento
pergunto-me é possível suportar?
ainda é possível amar ou se apaixonar?

talvez sim, mas sem projeções (sei!) 
talvez sim, mas sem competições (sei também!)

continuo falando do rodopiar
no mesmo lugar, termina por corroer
em movimento - ai meu deus!
por que não pode ser apenas brisa?
porque a vida é a capacidade de girar-bailar
ainda que no mesmo lugar, 
mas sempre acima do chão e das tradições.

Opaxorô

Penas brancas e cajado prateado
passos lentos bem marcados
pele negra e manto branco alvo
pureza na pele e na alma
discernimento nas vestes e na coroa
Pai de todos
Mas acima de tudo, dono de todos os Oris
O cajado que segura o peso de tempos imemoriais
também desfaz o mal e combate Iku
Penas brancas e cajado prateado
Cajado enfeitado 
de onde pende tudo que há nos mundos
no Orun e no Ayiê 
Afinal, conhece bem os seus filhos
Penas brancas e cajado prateado. 





29 setembro 2014

O que existe?

era uma dia qualquer
com mais um cigarro qualquer
olhando pro infinito da crueldade de cidade dele
sem saber que era olhado por dois olhos lindos e curiosos
como todo homem sem jeito, ele fez a primeira grosseria
a Terra pararia se ficasse impune – ela tinha bom humor
adultos, na medida certa de uma adolescência,
são o nirvana do charme do flerte
até que os olhos finalmente se encaixaram
porque já tinham se acarinhado tantas vezes
mas ela não sabia que ele não existia
e ele a amou como se nada mais existisse
e ela lhe ofereceu o corpo, a vida, os filhos, todo o amor...
mais um cigarro sem sentido
se nem a fumaça poderia romper os grilhões, as paredes
Homens que não existem não deveriam fazer promessa
destroem a possibilidade de existir por si
e vão deixando de existir para o amor eterno que criou
Será ironia ou proteção
começar na inospitalidade e 
terminar na mais bela praia do mundo..
os olhos dele já não encontravam os dela..
o homem que não existia, sem amor, voltou a ter um corpo
depois de pedir clemência a Yemonja por não ter aprendido a coragem de amar

ela pegou um avião de papel e foi para bem longe do coração dele e da praia mais linda. 

Cante-me

ela sempre me canta
quando desabafa
me canta
quando conversamos
me canta
quando saiamos pra dançar,
na maior zoeira,
aí é que ela me cantava.
quando me diz verdades
me canta.
mas não é que ela me cante
é que os meus ouvidos foram programados,
e os resto do mundo da mesma forma,
(por Olorun, Deus Tupã...)
para que ela cantasse
docemente, mais ou menos, aos nossos corações
ela era minha Aninha
("A poesia não se explica, sente-se")
e de canto em canto
fomos cantar cada um no seu canto
até que numa festa de aniversário
sentada num canto,
sem vergonha alguma,
voltou a me cantar...
e não há felicidade maior
quando lembro que minha Aninha 
saindo ou chegando na faculdade, diz
- quero ser cantora!
e depois de tantas ventanias
denomina-se uma cantante

Mais do Mesmo Alívio!!!