18 maio 2016

Quando o teto é o horizonte 
E já faz tempo que seus olhos se abriram
Parece que seus desejos diminuem
E que a fantasia é imensidão. 

Vejo a moldura inferior dos quadros
E o dardo atirado não se fixa 
Estou deitado e ajoelhado...
Para os Òrìsàs baixando minha crista

Quando o teto é insidioso 
E sua alma já deu lugar à calma
Memórias me drogam, corrompem o status, 
E somente o som do vinil me salva. 

Quando o teto deixa de ser tudo, vira espelho.
Vejo-me mais nas teias de aranhas 
Uma armadilha, a velhice e total letalidade 
Vivo mosquito, vivo quem abocanha.  

Quando o teto passar a ser tudo, vira espelho.
Vejo-me na luminária, no entalle de gesso quase clásico 
Vejo delicadeza, estética e adaptação
Diminuo os analgésicos para tentar ser prático.  

16 maio 2016

ConCauby


Cauby, eu me lembro muito bem
Imitava sua voz a sonhar 
Com os palcos que a vida tem 

Foi então que me rendi ao violão 
Num pastiche seguia teus passos 
Numa vibe de deliciosos compassos

Se subiu, ninguém sabe ninguém viu 
Pois hoje um astro se eternizou ...
Por quantas veredas musicais me guiou ! 

E agora eu daria uma milhão por Cauby em meu violão.

Brilhe!

14 maio 2016

14 de Maio

Abre a porta:
o senhor é ... 
Sim!
Eu sou quem te cuidará (!)
Deus! Quem manda essas criaturas de branco?
Abre porta 
Fecha porta
Já não tenho senha ou envergadura  
Tenho um talho
Tenho um rasgo e uns fios transparentes
Seiva que entra 
Morte que sai 
Toalha 
Roupão  
Papagaio 
E um tanto de desconhecidos a me pegar. 
Nem nas fantasias fui tão promíscuo. 
Talvez sim, mas com prazer. 
A dor
A fisgada 
A novalgina e a briga pela morfina. 
A negociação entre o micropoder e a suposta adição. 
As cinzas do meu sorriso
O cansaço do sol 
É a noite sempre atrasada. 
A madrugada vilipendia e atormenta. 
Água, mais água e mais estranhamento.
Vamos andar, diz um
Vamos comer, diz o segundo
Só uma furadinha, fala o perverso
Quer ajuda?
Dói
Não posso lhe ajudar. 
Ah, foi a farmácia que atrasou!
Não, foi a gerência que não liberou. 
Ah, Foucault venha me valer! 
Sartre, por que desapareces?
Freud, seu porra, preciso de você! 
Abre a porta 
O senhor é...
Sim, sou eu! 
E meu namoro à distância com o teto é novamente interrompido.
Abre-te sésamo 
Preciso resgatar minha autonomia
Antes de fazer parte dos ladrões de imagens. 
Pressão sanguínea 
Batimentos de crenças
Termômetro de decepção 
Imobilidade calculada no taxímetro dos botões da maca. 
Visitas
Sorrisos 
Não fique aí parado! 

10 maio 2016

Morada

Talhado 
Corrige
Burilado
Retira o que é sombra e o que é casca. 

Aberto
Viola
Exposto 
Dar a ver, dar a dor, deu, à tudo, tempo. 

Aberto
Mal feito
Degredo
Marginais do sorriso branco bem mantidos. 

Esculpido 
Molde
Reciclado
O alicerce, a viga, um corpo revisitado

Acordado 
Droga
Renascido
Aprendendo a reaprender e a me (o)posicionar.

23 abril 2016

Ẹlẹ́mọ̀ṣọ́

É Sàngó que desfaz as pedras de mim. 
É esse Òrìsà que me observa ao cantar.
Mas na gira-do-mundo,  flerto com todos;
Marrom, verde e azul nas guias do pescoço...
Essa tríade que me tange no roçado da vida.

Não preciso vestir rechilieu ritualística - 
Se visto calça, saia ou aṣọ àríyá, não faz questão.
Todas as ayabas me rodam, perfumam e me deixam no salão
Sempre com os abẹbẹs, ọfàs e florins. 
Aos pés das Ìyás sou parte do canto de alegria, dor e gratidão. 

No meu girar, por desígnio de Olódùmarè, tenho um ọ̀bẹ. 
O barracão é uma peleja, é uma caçada - brilho de metal. 
A Ìyá ligeira enxuga meu rosto e me faz sorrir...
São tantas delas para trazer ordem e sabedoria. Ẹ̀rọ̀.
São tantos de mim no Ilè - tempos de acreditar, segundos de reprimir.

É Sàngó que desfaz as pedras de mim. 
É esse Òrìsà que me observa ao cantar.
Mas sou do ṣiré, flerto com todos;
Marrom, verde e azul nas guias do pescoço...
Essa tríade que me tange no roçado da vida.

E uma das mães (a que me fez sonhar) me entregou um àtòrì; 
Com as águas comecei a me cobrir
Quero ijèṣá, aruá, milho branco e montar no ìgbín. 
É do opa òṣooro que trago na pele que retiro verso, fé e força - 
E o Alá faz o ẹní para sonhar depois de acordar. 

Foi numa tina de alfazema que primeiro senti o àṣę...
E no roçar das folhas em meu corpo, conheci meu orí. 
- Ewé. Ewé, màrìwò... Gritavam meus ancestrais idílicos 
O cata-vento multicor das matas coa meu corpo em infusões e tinturas...
E com as folhas de pitanga e abre-caminho me incenso e lavo passos e palavras. 

É Sàngó que refaz o fogo e a rocha mim. 

01 abril 2016

2016.I

Quantos sentem a falta do corpo "completante" ao lado?
Quando são os corpos certos
Que trarão desatino, instabilidade e o nirvana na exata medida?
Quantos estão no paralelo 30 ou em outra fronteira?  

Quantos pares conseguiram erguer pontes? 
Quantas conseguirão manter as suas flores, 
Espalhando perfume, estética e delicadeza - la vie en rose
Já são tantos corações desde que ela deixou o 12°...

Bah, fiquei preso ao calendário.
Cuidando com solidão de meu cambicho.
Mateando para não virar um matungo,
Podando a falta para que não se faça numa velha macanuda. 

Arre!, esse delírio de 'quantos?'
Quantos há em mim que sustentam o desejo? 
Quantos podem manter a qualidade dos longínquos olhares, 
E, ainda que cônscios, erguerem-se pela manutenção da saudade?

Todos de mim. 

31 março 2016

7 meses e algumas lágrimas

Vontade
Dá e passa 
- dizem. 

Já a Saudade
Desafia a vontade
Não Disfarça. 

A Saudade 
É dádiva 
É Vida em seu lugar. 

A Saudade
É a lágrima pulsante
De Ausente olhar.

A Saudade 
Faz trio com os versos
E Timidez pra te mostrar.

A Saudade 
Desfaz-se com o toque 
Dos que Preservam o caráter. 

A Saudade 
É a justa medida 
A Clarividência, a aposta, a alma permitida. 

A Saudade 
Dá nova cor às promessas
Ao Tempo em que salvaguarda as juras
[de amor].

10 março 2016

Homem-ao-mar

Vista p'ro mar 
Vestir-se do mar 
Despir Iemoja
De tudo sarar 
Por obsequioso mirar
Faça-me cantar
Para que a fé 
No meio da kalunga escura
Volte a me encontrar. 

Mais do Mesmo Alívio!!!