23 abril 2016

Ẹlẹ́mọ̀ṣọ́

É Sàngó que desfaz as pedras de mim. 
É esse Òrìsà que me observa ao cantar.
Mas na gira-do-mundo,  flerto com todos;
Marrom, verde e azul nas guias do pescoço...
Essa tríade que me tange no roçado da vida.

Não preciso vestir rechilieu ritualística - 
Se visto calça, saia ou aṣọ àríyá, não faz questão.
Todas as ayabas me rodam, perfumam e me deixam no salão
Sempre com os abẹbẹs, ọfàs e florins. 
Aos pés das Ìyás sou parte do canto de alegria, dor e gratidão. 

No meu girar, por desígnio de Olódùmarè, tenho um ọ̀bẹ. 
O barracão é uma peleja, é uma caçada - brilho de metal. 
A Ìyá ligeira enxuga meu rosto e me faz sorrir...
São tantas delas para trazer ordem e sabedoria. Ẹ̀rọ̀.
São tantos de mim no Ilè - tempos de acreditar, segundos de reprimir.

É Sàngó que desfaz as pedras de mim. 
É esse Òrìsà que me observa ao cantar.
Mas sou do ṣiré, flerto com todos;
Marrom, verde e azul nas guias do pescoço...
Essa tríade que me tange no roçado da vida.

E uma das mães (a que me fez sonhar) me entregou um àtòrì; 
Com as águas comecei a me cobrir
Quero ijèṣá, aruá, milho branco e montar no ìgbín. 
É do opa òṣooro que trago na pele que retiro verso, fé e força - 
E o Alá faz o ẹní para sonhar depois de acordar. 

Foi numa tina de alfazema que primeiro senti o àṣę...
E no roçar das folhas em meu corpo, conheci meu orí. 
- Ewé. Ewé, màrìwò... Gritavam meus ancestrais idílicos 
O cata-vento multicor das matas coa meu corpo em infusões e tinturas...
E com as folhas de pitanga e abre-caminho me incenso e lavo passos e palavras. 

É Sàngó que refaz o fogo e a rocha mim. 

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