26 março 2012

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Tenho dado a me perguntar do que tenho realmente medo.

Abro parêntesis. Amanhã completarei trinta e três anos. Há quase seis meses não tenho estado no meu melhor momento de vitalidade. Meu pai morreu. Tentei entrar nos domínios de Hades duas vezes (dessa vez). Fiquei internado por duas vezes numa clínica (61 dias totais). 6 +1 = 7 - O Carro. Individuação. Sete Espadas.  Sete Flechas. Tenho cuidado e amado meu filho, de três anos, como nunca. Até tento amar a sua mãe, mas não deu e não dá. Fiz as pazes com a minha mãe e irmã, no entanto, declarei anistia e coloquei no não-recebíveis meu irmão. Ainda não sei se já sei o que sou, ou se sou o que antes tinha certeza de ser. Nunca fui tão facilmente viciado/viciante - impressionado, talvez. Fecho parêntesis. 

Do que tenho medo? Tenho medos que todos têm, ou quase todos: do próprio escuro, de alguns pensamentos, de decepcionar ou sofrer uma decepção. Decepção é decepção, seja de que tamanho, cor, volume, extensão for. Mas ando com medo da minha sombra, de não saber onde coloco minha agressividade, dos excrementos compulsivamente amontoados n'alma, do desprezo que sou capaz e da indiferença que, por ventura, venha a sofrer. Do que se esconde atrás dos meus versos - será por isto a falta de rima? - não posso afirmar. Daquilo que sai em código, em herméticas metáforas e intranquilas quadras. Do meu fascínio por tudo que é secreto. Da indecisão do meu desejo. Do que o que não sai pela caneta e quando a voz se arvora a chegar perto, é patética a rouquidão que se apresenta. Tenho medo de aranhas e da minha vontade insana de virar louco. Isso faz parte da indecisão acerca do meu objeto?  Tenho medo do que os meus olhos dizem, de forma afoita, a qualquer um que os interpele, assim como, alguns poucos, que desvidraçam minhas orbitas e invadem-me com seus próprios olhos.  Tenho medo da palavra que minha analista, ou meu psiquiatra, abortaram -  deixando-me na ignorância de mim. Tenho medo da coragem que tenho para me enfrentar e das atitudes que tomo para enfrentar a vida. Se ainda estou escrevendo... Por que preciso saber tanto do que tenho medo?

"Conserve seu medo
Mantenha ele aceso
Se você não teme
Se você não ama

Vai acabar cedo" Raul Seixas



''Se awo kikun, awo kirun, nse awo mawo si Itula Ile Awo!"
(Os iniciados no mistério não morrem, os iniciados no mistério não desaparecem, os iniciados no mistério vão para o Itulá!)

20 março 2012

sem perigo

Dei-me conta da tigresa
da realeza
da incerteza
que é fazer parte da nobreza.


Dei-me conta do que é escuro
que atrás do muro
ou do coração duro
que é mais baixo que um sussurro.


Dei-me minha conta
que à ninguém mais espanta
que já virou faca sem ponta
sem perigo, sem afronta


Dei-me conta de mim.

25 fevereiro 2012

epifania

Lâmina
ilumina
a carne fina
a teia de vidas
uma constelação de estrelas famintas

Lâmina
na pele inclina
com o corte brinca
pára o fio que se precipita 
e um punhado grande de gente se fascina

Lâmina
na pele da menina
no rosto que afina
no bucho do rapina
na carne morta de quem termina

Lâmina
ilum(imã)
pra quem se diverte com o que finda
atraindo boa figura ou os vermes ao luar...
Lâmina que, por hoje, não irá me cortar.

Lâmina
luz tênue 
um único raio
esmeril.

20 fevereiro 2012

mais do mesmo (nuvens brancas)

Crie seu próprio movimento irregular
diga-me que não fiz minha parte
que calei no rebote
que o que vivemos foi questão de sorte
ou prejuízo da arte.


Voe pássaro encantado
fure as brumas que até hoje nos envolviam
seja o lí, desfaça o tí e não esqueça do ó...
Talvez as brumas sejam para apenas um 


Cante, grite luz, deseje-me paz
O som te jogará na dança
Eu permanecerei atento:
são tantos vôos, danças e coisitas...
que num olhar descuidado parecem demais.


Eu canto, danço e jogo de maneira pouco convencional
Eu amo desmedidamente
em espiral, em círculos, 
ou mesmo, num certo caos
Como é triste amor de passar mal...

02 fevereiro 2012

Dia dois de Fevereiro


mourn

- Onde está Pedro?

- Não entendi!

- Costumávamos nadar juntos.
Ele ainda era um molecote...

- Então ainda não sabes? 

- Não. Não está fora estudando?

- Sim, esteve por dois brevíssimos anos...
E voltou como um vento forte
repleto de emoções descontínuas.
Voltou como as presas de uma leoa
atacando para defender...
Lutou!

- Não, por favor, mulher...

- Dele, agora, tenho apenas nemórias 
estampadas em papéis...

- Ele era...

- Sabemos tudo o que ele era...
Tenho que descansar. 
Pode dormir no quarto dele!

- Que visita estranha é a morte...


16 janeiro 2012

trintaeseisdias

Entrei no dia de Ògún,  
do meu pai - dono da minha cabeça.
(precisando da força do seu àse.)
Guerreiro Valente, conhecido como vencedor de demandas.

Cortador de cabeças (e de males)...
Dono dos caminhos e zeloso com seus filhos
Dono do Alákòró
- já começo a ouvir um bem-te-vi.

Fiquei guardado por Olódùmaré
E sob as bençãos do Pai de Todos
- trago no corpo um Opasoro.

Exercitei calma, paciência, misericórdia
humildade e tantas outras coisas
(para o bem e se contrário)...

Mas saí no dia de Òsóòsi, 
Com um Òbe e um Ofà.

Um é regente amado
Outro é caçador adorado. 

Salve o Sagrado e os Òrìsàs

Ainda ouço os bens-te-vi
Sem mais do mesmo!

Àse!

Mais do Mesmo Alívio!!!