28 abril 2020

Quarentena IV

Eu escrevo cantos
Para aplacar a falta
Pra não encharcar a fronha
Pra acordar cedo, disposto
E não ficar pelos cantos

Eu escrevo a presença
Para tornar real
Para não sofrer sozinho
Pra não ficar rouco
De reclamar pela ausência

Eu escrevo poemas
Pra sair do virtual
Para as palavras roçarem
Para que as perdas
Não sejam temas da quarentena

Eu apenas escrevo
Para alguém ler, talvez
Pra sobreviver, é certeiro
Pra continuar amando, eu
Escrevo nos dias que não conto.

Eu escrevo pra transbordar
Para não me deixar
Para não me ausentar
Para virar a mesa do tédio
E negociar viagens astrais. 

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