07 maio 2012

fórceps

Se foste aniquilada pela minha ira
 
Se foste acalmado pelo meu carinho
 
Se foste o que me prometera
 
uma vez...
 
Uma vez - por fórceps...
 
Uma única rajada de sol
 
ou um copo com resto de uísque...
 
Seriam o menor juízo!
 
Como seria fácil esquecer.
 
Bastaria um punhal, um peito
 
e um louco. 

04 maio 2012

mail

E-mail não tem verso

é uma carta de frente
 
é uma carta de amor sem fundo
 
vez que amor exige poesia, versos

e verso!

18 abril 2012

vago

escrever o quê?
o que vocês comem sem razão
sem perceber que sai de um pulmão deteriorado
de um rim amaldiçoado, de um sonho louco?
escrever....

vocês já me conhecem
sabem da minha leve depressão mal curada
da minha angustia por viver neste corpo.
escrever o que já repito sem coração
o que berro pelos cantos sujos de minha mão?

não vejo título nem tema
veias, tendões ou mesmo músculos
que possam segurar um pincel
para letras mortas e mortais
que valham sujar a inocência da folha em branco.
ah, escrever...


declarar a minha falta de tesouros 
a invídia de minha sombra e do meu reflexo
a todo tempo querendo ser eu
e eu correndo 
correndo
por vezes morrendo
mas correndo
para não deixar de ser quem, agora, não tem o que dizer.

preocupado em ser
o que já cansou de falar
mas precisa apreender.

01 abril 2012

26 março 2012

.

Tenho dado a me perguntar do que tenho realmente medo.

Abro parêntesis. Amanhã completarei trinta e três anos. Há quase seis meses não tenho estado no meu melhor momento de vitalidade. Meu pai morreu. Tentei entrar nos domínios de Hades duas vezes (dessa vez). Fiquei internado por duas vezes numa clínica (61 dias totais). 6 +1 = 7 - O Carro. Individuação. Sete Espadas.  Sete Flechas. Tenho cuidado e amado meu filho, de três anos, como nunca. Até tento amar a sua mãe, mas não deu e não dá. Fiz as pazes com a minha mãe e irmã, no entanto, declarei anistia e coloquei no não-recebíveis meu irmão. Ainda não sei se já sei o que sou, ou se sou o que antes tinha certeza de ser. Nunca fui tão facilmente viciado/viciante - impressionado, talvez. Fecho parêntesis. 

Do que tenho medo? Tenho medos que todos têm, ou quase todos: do próprio escuro, de alguns pensamentos, de decepcionar ou sofrer uma decepção. Decepção é decepção, seja de que tamanho, cor, volume, extensão for. Mas ando com medo da minha sombra, de não saber onde coloco minha agressividade, dos excrementos compulsivamente amontoados n'alma, do desprezo que sou capaz e da indiferença que, por ventura, venha a sofrer. Do que se esconde atrás dos meus versos - será por isto a falta de rima? - não posso afirmar. Daquilo que sai em código, em herméticas metáforas e intranquilas quadras. Do meu fascínio por tudo que é secreto. Da indecisão do meu desejo. Do que o que não sai pela caneta e quando a voz se arvora a chegar perto, é patética a rouquidão que se apresenta. Tenho medo de aranhas e da minha vontade insana de virar louco. Isso faz parte da indecisão acerca do meu objeto?  Tenho medo do que os meus olhos dizem, de forma afoita, a qualquer um que os interpele, assim como, alguns poucos, que desvidraçam minhas orbitas e invadem-me com seus próprios olhos.  Tenho medo da palavra que minha analista, ou meu psiquiatra, abortaram -  deixando-me na ignorância de mim. Tenho medo da coragem que tenho para me enfrentar e das atitudes que tomo para enfrentar a vida. Se ainda estou escrevendo... Por que preciso saber tanto do que tenho medo?

"Conserve seu medo
Mantenha ele aceso
Se você não teme
Se você não ama

Vai acabar cedo" Raul Seixas



''Se awo kikun, awo kirun, nse awo mawo si Itula Ile Awo!"
(Os iniciados no mistério não morrem, os iniciados no mistério não desaparecem, os iniciados no mistério vão para o Itulá!)

20 março 2012

sem perigo

Dei-me conta da tigresa
da realeza
da incerteza
que é fazer parte da nobreza.


Dei-me conta do que é escuro
que atrás do muro
ou do coração duro
que é mais baixo que um sussurro.


Dei-me minha conta
que à ninguém mais espanta
que já virou faca sem ponta
sem perigo, sem afronta


Dei-me conta de mim.

Mais do Mesmo Alívio!!!