Não-ser é cansaço
E não se ver é sofrer
É ter a dor como travesseiro
A solidão como parceira de cama
O descompasso por despertar
E o silêncio se encarregará do “bom dia”
Não-ser é cansaço
E não se reconhecer é envelhecer
É ter os dias como adversários
Sem protetor solar ou galochas
As manhãs escravas das tardes
As noites são as criadas das longas madrugadas
Não-ser é cansaço
E não se saber é fenecer
É ter geladeira vazia e espelho quebrado
É a morte do cachorro, do pai, do namorado
São quartos assombrados por aquilo que-é
E salas sempre frias
Não-ser é cansaço
E não se gostar é parecer desaparecer
É ter hormônios e desejos deprimidos
Pouca calma e nada, quase nada, de alma
É ter uma vista única para o caos
E portas para lembranças já perdidas
Não-ser é cansaço
Não se perceber é capital
É ter ídolos tombados
Sem ebó, ramadã ou natal
De saudade de si
Morre-se já no primeiro degrau.
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