27 julho 2021

Filtro

Eu amo você 

Que seja óbvio 

Mas é de outro jeito! 

Assim sem coraçãozinho 

Sem figurinha

Sem bilhetinho todo dia. 

“tudo?!…é cansaço!”

Amo com a minha crueza

- sem condimento, sem cozimento -

Minha natureza, 

Incerteza,

Inteireza. 

Nem muito! 

Nem pouco! 

Amo o que sei disso;

O que já consegui aprender -

E nada tem que ver com firulas,

Com Ideias,

Com fantasias,

Ou com dar presentes a você. 

Isso, que não tem forma, é

Uma báscula 

Um movimento de elétrons 

Um acreditar no espectros 

Entre Tomaz Antônio Gonzaga 

E o embriagado Bukowski.

Vim da roda! 

Das rosas,

Dos raios. 

Hoje, 

Fico com a pedra

 e sua constância e 

Dureza e 

ausência de certeza e 

Capacidade própria de beleza! 

Fico com a possibilidade 

Com a aposta

Com a revolução 

Com a refiltragem de ideais 

De tudo o que poderia ser.

Décio Plácido, 27/07/2021

23 julho 2021

Verde rubro

Diz de tudo: 

Das cores

Também dores

E seus estudos! 

De ir,

De conseguir

E parar. 

Verde rubro 

Diz sem querer: 

Dos ritmos 

Da velocidade 

E o tal abuso.

Do sapato 

- o que carrego - 

Ao sobretudo!

Décio Plácido, 23/07/2021


08 julho 2021

 Andam dizendo que estou sério 

Mas, na verdade, só estou atento

O riso, a galhofa, a gargalhada 

Se instalam feito marcas no tempo 


O cabelo e a barba cresceram

Ganhei novas cores e refletores 

Avolumam-se estudos e novos interesses 

Devo estar bem (também) de neurotransmissores 


A foto preto e branco 

Num dia de alegria e festejo… 

Se soubessem o quanto sorrio em alma

Me decifrariam na velocidade do lampejo! 

Deco Plácido, 08/07/2021

09 maio 2021

Somos (para Regina Celia)

 Somos tudo

Somos demais 

Somos a sobra 

A necessidade e a precisão


Somos tudo 

Somos o ranger 

Somos o que acolhe

O café e a mesa pronta


Somos tudo 

Somos e é isso

Somos mais daquilo 

A faca amolada e o algodão 


Somos, de fato, tudo 

Somos o que não quero

Somos o que desejamos

E é tanto que não cabe na conta. 


Somos tudo

Somos amor 

Somos desertos 

Somos dois e é uma multidão! 


05 maio 2021

Sem poesia

Hoje está bem difícil ser eu! 

Pensamentos desordenados assombrando. 

A dor não está no corpo,

Mas é ele que está me matando.


Os minutos passam como farpados.

Não consigo imaginar os destroços 

De tudo isso que está me cercando, 

Mas nunca pensei em por a alma pra negócio. 


Não consigo parar de chorar, 

Mas não quero deixar a tarde seguir. 

Um grito contido, um estouro abafado

Faz isso: a substância do corpo sumir.


Hoje é dia de xingar Deus em vão! E

De perder o tom da autocrítica! 

A falta de predicado para essas horas 

Fazem com que morram sem motivo ou direção. 


É ininteligível esse sofrimento: 

Cabe nesse conjunto de órgãos e tecidos,

Sem estar de fato ou direito em um lugar...

Já são tantas lágrimas (nada conhecido!).


Hoje está bem difícil ser honesto

E ter uma ilusão de fidelidade ao desejo. 

Quando tudo está pelo golpe presto, 

Nenhum sorriso se resume inteiro! 


Não sei se são as chuvas de maio; 

As mortes cruéis da pandemia; ou

Os ossos que não param de morrer...

Tudo isso era o que ontem me afligia! 


Hoje, nessa impossibilidade de dizer, no vácuo 

Mal-conheço, desconheço, irreconheço

Isso que me rouba o chão. 

Tudo é um buraco no apreço!


Hoje está bem difícil ser eu, 

E não tenho uma palavra que me conforte,  

Nem um amigo antigo, irmão mais velho 

Que seja mais esperto, bonito ou forte. 

Deco Plácido, 05/05/2021

23 abril 2021

Saudades

Ver dormir 
 Pensar o despertar 
 Imaginar o café... 
 É lindo o seu sorrir 

 O dia corre 
 Cuidamos dos filhotes 
 Das plantas e dos bichos 
 Que nada melhore! 
 (precisa?) 

 Um taça da vinho 
 Vamos cozinhar?
 Coloca a mesa e 
 Se esmera no carinho 

 Café e chocolate 
 Talvez um chá! 
 Não lave a louça, 
 O sofá nos cabe! 

 Caiu a tarde 
 Troca o LP 
 Criança precisa dormir 
 E, de novo, eu e você. 

 Traz um tinto 
 que fale da gente 
 A lua foi mansa 
 É dia novamente. 
 Deco Placido, 21.04.2021

06 abril 2021

Recomeçar

Recomeçar é o quê, afinal? 

Coser as pontas dos atos.

Pode ser do início, mas

Pode-se reescrever só o final! 


[Colocar os pingos nos is do que não entendi?]


É cuidar da semente,  

Ver além do poente, ver depois.

Pode ser apenas uma poda, 

Salvaguardando coisa e gente! 


[É saber sem pestanejar que 1 vem antes de 2.]


Pode haver mudanças no recomeço:

Das letras, da ordem, das setas...

E mesmo sendo apenas remendos ao início, 

Nada assegura ausência de tropeços!


[muito do que não aferi, agora meço!]


Talvez nem seja tão sábio um novo começo, 

Mas não é tolo se se decide encerrar - 

Sei que me parece mais difícil ficar parado

Se por círculos e ciclos me reconheço! 

Deco Plácido, 06.04.2021

29 março 2021

Não se cabe totalmente em fetiches. 

Não se é a fantasia que se veste.


Eu não aplaudo tirania, 

Tampouco sou unguento disponível. 

Sou do barro, da noite azeviche. 

Sou o avesso da vilania! 


Se o que resta é um pálido drama, 

Sou mesmo gente antes de poesia. 


Não sou dado à correria. 


De onde venho, não é bom alvitre 

Perder-se em si, achar no outro 

Todo momento, toda alegria. 


Não sou fonte ou reflexo de azia - 

Já disse que transbordo o estabelecido.

Invento estórias e estouros

Para integrar (plácido) a melodia. 


Já sou maior que o meu molde!

Colhi flores, senti o vento, juntei pedras e

Nas noites de pranto e disritmia 

Senti de tudo e bebi uns goles. 

Ultrapassei as barreiras do que foi guia! 

Décio Plácido, 27.03.2021 

(mas caberia em 1979 também)!

Mais do Mesmo Alívio!!!