Eu queria dar bom dias aos indígenas
neste dia que é de luta
Pedir desculpa aos séculos
Onde não morrer continua sendo a labuta
guaranis, tupinambás, bororos
Pindorama precisa por fim às disputas!
Sinto-me desorganizado
Talvez esteja mesmo
Este país não vai bem
Tudo resumido a ataque e defesa!
Uma névoa densa...
Talvez eu devesse dizer caos.
Ninguém está tão bem;
Bom mesmo só o capital.
Sinto um despedaçamento
Em mim e entre os mais chegados
Catamos o que sobrou de hoje,
Não morrer é o combinado.
Essa sensação,
Tão material quanto um soco,
Atinge a tantos dos meus
Sem disparos, disfarces ou estouros
Sinto-me desorganizado, mas
Mantenho a estrutura racional …
E, com um punhado de paixão,
Lembro do Brasil essa má pecha nacional.
Uma nuvem de gafanhotos
Ou um enxame de perdulários,
Consumindo todo e cada tostão
Da saúde, segurança e educação.
Mas talvez um vento novo,
Que se aproxima arrumando os cacos,
venha trazendo outros estados,
Iluminando cantos d’alma opacos.
Queria morar numa canção
Uma de Geraldo, Elomar
Ou Xangai
Queria morar numa moda
Com início e voo infinito
Sendo bem vinda
Em qualquer situação!
Queria viver nesses versos
De Dércio, Amelinha
Ou Alceu
Queria as emoções em si
Aquilo que invade e fica
Num momento solitário
Quando não estou disperso!
Tenho uma alma musical
Sem esse jeito de dar dó
Tantas vezes ré
Em mim
Um acorde, um solfejo
Um frase de viola
Me diminuiria o sal.
Já toquei e já cantei
Tive plateias, aplausos
E agudos
Mas não é isso
O que eu quero
Se já foi dito
Eu ainda não sei.
Mais uma entressafra
outra vez perdido
nem acertos nem mancadas
andando à toa nas praças
onde está a inspiração?
já que há muito não durmo
vou deixar aviso à praça
- posso ser guarda-noturno!
Entressafra de gente
de verbo, de sonhos
de horas e de metáforas…
À noite, o silêncio é medonho.
E se fosse uma coruja?
Não haveria entressafra
ou guarda-noturno,
e seriam minhas as praças!
Que deliciosa ilusão
sem saber, representar o saber
sendo assim, será sempre tempo de safra
enquanto houver praças, árvores e guardas
mas onde está a inspiração?
Décio Plácido, 07/03/2022
Para tudo me preparei:
um festa!
uma caçada!
Para ser um souvenir.
Por tudo esperei:
um sonho!
um beijo!
Por um motivo.
De tudo fiz:
barba e unhas!
roupas e espírito!
De mentir até perdoar.
Veio Pessoa e
o arrependimento,
a depressão, e
Veio a sombra do que poderia ser.
Não era querido
nem sentia calor
ou era paciente,
não era o que antes fora.
Pena,
penas e
penalidade.
Penélope sem charme.
Um bate-papo,
inglês mal falado
sonho encardido
Um garoto interrompido.
Décio Plácido, 2004 (Holanda)