03 novembro 2021

Motumbá Iémọ́já

Entrei e te saudei

Molhei os pés

Esfriei o corpo 

Enquanto o espírito ardia


O céu divinizado 

Na sua imensidão 

O Sol em teu corpo

Prestes a arrebentar

Em mim. 


Por três vezes

Mergulhei Orí 

Disse uma reza 

E esperei… 


Uma dor no quadril 

A cabeça intensa 

- tantas mortes no Brasil -

A esperança é uma coisa densa.


Se tivesse desejos 

De anjos ou gênios traquinos 

Pediria a extinção dos meus grilos, 

À Iyá, não me arrisco. 


Diante de tanto lamento 

Ògún chegou à beira

Trazendo Babá Igbona e Ọ̀ṣọ́ọ̀sì 

Èṣú passou de bicicleta… 


Espumas brancas me cercaram 

Ganhei um beijo Dela

Enquanto era banhado… 

Enquanto nascia outra vez


Décio Plácido, 31/10/21

12 setembro 2021

 Você chegou num dia iluminado

era quarta feira

era final de inverno

era o meio do dia 


o menino de Virgem

trazendo constelações

são tantos sentimentos e matrizes

matizes de novos momentos


Se o Mar foi testemunha

e o Sol não se poupou

cabe a mim estar a postos 

e jamais economizar amor. 


13 anos se passaram 

Tantas cores pintadas

e tantos traços retocados

nessa estrada, em nosso chão


Te amo, filho! 

11 agosto 2021

 De pernas pro mar 

Dou pernas ao mar


Me encho de mar 

Desincho no mar 


É bom de cantar 

De escrever

E transar… 


De se molhar 

E se benzer 

Pra inhaca espantar 

E tudo crer. 


De pernas pro mar 

A vida encolhe

O sonho se transforma 

E dou pernas ao mar

 

Me encho de mar 

O peito estufa 

Não há desculpa 

E desincho no mar 


É bom de cantar 

Melhor mesmo contemplar 

Perder de vista 


De se molhar 

Tirar sustento 

Ganhar o mundo 

Ver o Sol descansar. 

Décio Plácido, 11/08/2021

27 julho 2021

Filtro

Eu amo você 

Que seja óbvio 

Mas é de outro jeito! 

Assim sem coraçãozinho 

Sem figurinha

Sem bilhetinho todo dia. 

“tudo?!…é cansaço!”

Amo com a minha crueza

- sem condimento, sem cozimento -

Minha natureza, 

Incerteza,

Inteireza. 

Nem muito! 

Nem pouco! 

Amo o que sei disso;

O que já consegui aprender -

E nada tem que ver com firulas,

Com Ideias,

Com fantasias,

Ou com dar presentes a você. 

Isso, que não tem forma, é

Uma báscula 

Um movimento de elétrons 

Um acreditar no espectros 

Entre Tomaz Antônio Gonzaga 

E o embriagado Bukowski.

Vim da roda! 

Das rosas,

Dos raios. 

Hoje, 

Fico com a pedra

 e sua constância e 

Dureza e 

ausência de certeza e 

Capacidade própria de beleza! 

Fico com a possibilidade 

Com a aposta

Com a revolução 

Com a refiltragem de ideais 

De tudo o que poderia ser.

Décio Plácido, 27/07/2021

23 julho 2021

Verde rubro

Diz de tudo: 

Das cores

Também dores

E seus estudos! 

De ir,

De conseguir

E parar. 

Verde rubro 

Diz sem querer: 

Dos ritmos 

Da velocidade 

E o tal abuso.

Do sapato 

- o que carrego - 

Ao sobretudo!

Décio Plácido, 23/07/2021


08 julho 2021

 Andam dizendo que estou sério 

Mas, na verdade, só estou atento

O riso, a galhofa, a gargalhada 

Se instalam feito marcas no tempo 


O cabelo e a barba cresceram

Ganhei novas cores e refletores 

Avolumam-se estudos e novos interesses 

Devo estar bem (também) de neurotransmissores 


A foto preto e branco 

Num dia de alegria e festejo… 

Se soubessem o quanto sorrio em alma

Me decifrariam na velocidade do lampejo! 

Deco Plácido, 08/07/2021

09 maio 2021

Somos (para Regina Celia)

 Somos tudo

Somos demais 

Somos a sobra 

A necessidade e a precisão


Somos tudo 

Somos o ranger 

Somos o que acolhe

O café e a mesa pronta


Somos tudo 

Somos e é isso

Somos mais daquilo 

A faca amolada e o algodão 


Somos, de fato, tudo 

Somos o que não quero

Somos o que desejamos

E é tanto que não cabe na conta. 


Somos tudo

Somos amor 

Somos desertos 

Somos dois e é uma multidão! 


05 maio 2021

Sem poesia

Hoje está bem difícil ser eu! 

Pensamentos desordenados assombrando. 

A dor não está no corpo,

Mas é ele que está me matando.


Os minutos passam como farpados.

Não consigo imaginar os destroços 

De tudo isso que está me cercando, 

Mas nunca pensei em por a alma pra negócio. 


Não consigo parar de chorar, 

Mas não quero deixar a tarde seguir. 

Um grito contido, um estouro abafado

Faz isso: a substância do corpo sumir.


Hoje é dia de xingar Deus em vão! E

De perder o tom da autocrítica! 

A falta de predicado para essas horas 

Fazem com que morram sem motivo ou direção. 


É ininteligível esse sofrimento: 

Cabe nesse conjunto de órgãos e tecidos,

Sem estar de fato ou direito em um lugar...

Já são tantas lágrimas (nada conhecido!).


Hoje está bem difícil ser honesto

E ter uma ilusão de fidelidade ao desejo. 

Quando tudo está pelo golpe presto, 

Nenhum sorriso se resume inteiro! 


Não sei se são as chuvas de maio; 

As mortes cruéis da pandemia; ou

Os ossos que não param de morrer...

Tudo isso era o que ontem me afligia! 


Hoje, nessa impossibilidade de dizer, no vácuo 

Mal-conheço, desconheço, irreconheço

Isso que me rouba o chão. 

Tudo é um buraco no apreço!


Hoje está bem difícil ser eu, 

E não tenho uma palavra que me conforte,  

Nem um amigo antigo, irmão mais velho 

Que seja mais esperto, bonito ou forte. 

Deco Plácido, 05/05/2021

Mais do Mesmo Alívio!!!