23 outubro 2025

Chegou

Mudou meu olhar 

Fez diferente 

Inscreveu na tez

Escreveu outra vez 

Um sentir saliente. 

Chegou

Amalgamou o caminho

Tinha tom insolente 

E peito escancarado 

Coisa de ficar intrigado

Dever de ser paciente 

Chegou

Bateu à porta 

Vestia azul celestial

Trazia água e desejos

Dizia esperar por sinal

Sinal de que ainda pelejo. 

Chegou 

Pegou minha mão 

Entre sorriso renascentista 

E a expressão de alma africana

Mostrou que sou artista

E a poesia é algo que inflama. 

Chegou

Mudou meu olhar 

Fez semente

Destituiu o pavor 

Instaurou o caliente 

Será tudo isso amor? 

22 outubro 2025

Chegou como tantas. 

Meio óbvio, 

Um pouco clichê

Vinda de não sei das quantas! 


Eu ia, ela ia; eu sentia, ela dizia…

Alojou-se na minha sombra.

Eu caia, ela tropeçava e se batia 

Se eu reclamasse, era grande a tromba.


Empoeirada pelo meu caminhar,

Eu rezava para não ser atrapalhado.

Não adiantou apressar o passo,

Só consegui que ela me quisesse embrulhado.  


Foi num instante de distração 

Que abri a guarda segura da distância

E baixei as cercas discretas da intenção… 

Fui sequestrado sem elegância. 


Precisei invocar um quebranto

Que desfizesse nó e âncora,

Me devolvesse o sol numa ânfora 

E a fizesse querer vestir outro manto. 


Chegou como tantas 

(tentou)

Morreu única. 


14 outubro 2025

E se eu escapasse da linguagem 
Abrisse mão de Tudo
E não houvesse diferença 
Entre significado e enunciação? 

E se eu estivesse fora dos registros 
Sem caber em humanidade?
E se tudo fosse descalculado 
E o acaso definisse a Criação? 

- Eu me escuto e eu te ouço!
Sem as armadilhas da Língua
Superfície lisa, sem nós
Nem objetificação.

E se eu fosse mestre doutor
Em amores Aproximados 
Não estaria neste mundo
Existiria real ou por procuração?

E se eu virasse um bicho? 
E se eu nascesse um deus?
Um ateu do Predicado
Seria você a outra opção? 

27 agosto 2025

No ofício de escutar, 

Fui forjado

Com aço e plumas.

Igualmente 

Adornado e estruturado. 


No ofício de escutar,

Faço estradas. 

Entre veredas 

Descampadas

E selvas fechadas. 


No ofício de escutar, 

Digo coisas a outrem.  

Interpretação.  

Sai do labor

A palavra que vem. 


No ofício de escutar,

É preciso silenciar

O próprio ego. 

Ser ponte,  

Fosso e castelo. 


No ofício de escutar, 

Reside a minha alma.

Tenho calma.

Inspiro

E o Sol se espalma. 

14 agosto 2025

Nos vimos. 

Nos reconhecemos. 

E ela disse sim. 


Tinha lembranças 

Tinha ouvidos, 

Então rimos. 


Afrodite ainda mora nela. 

Uma definição de Luz… 

Não sabia onde pôr as mãos, 

Meus olhos estavam abertos.


Não sabia se mirava ou seguia seu olhar 

Ou me rendia às lembranças 

Vivas de apertar o coração -  

Reais de machucar os dedos no violão. 


Ela me disse da sua vida.

Escutei como um devotado aprendiz. 

Quis saber da lacuna do tempo

Esquecendo a felicidade na ponta do nariz.


Nós vimos por aí 

Um bom acidente do acaso.

Já fiz música até pra ela 

E quando choveu, entreguei meu casaco.  

30 junho 2025

Para Patrícia e Isadora

Elas são dois encantos. 

Cada uma mexe em um ponto.

Somos um trio que se uniu.

Já teve canto, encontro e pranto,

Houve outros encontros,

Mas amor assim jamais se viu.


Elas têm seus amores… 

Nós vivemos nossos amores!

Temos uma história vivida.

Um triunvirato.

Uma tríplice coroa e

Três magos de uma estrela vívida.


Elas me salvaram várias vezes a vida. 

Me ajudaram a encontrar sentido.

O beijo arrancado, o abraço apertado… 

Lembro de tudo, não esqueço dos sorrisos 

Dos valores leais e dos dissabores.

O caminho de uma amizade na lida. 


Isinha, Pequena, Dodous … só carinho

Um doce, uma realeza, só grandeza!

Patita, Pat Maria, minha Pat da poesia 

Que lê Pessoa e me tira as certezas. 

Somos de algum jeito nossos 

Até voarmos como passarinhos. 

Décio Plácido, 30/06/07


22 maio 2025

Ventana

Eu deixei a janela entreaberta. 

Queria ver seu voo.

Saber se já tinha rumo.

De ti eu não destoo.

Um passo sem pensar - na certa 

Deixa tudo fora do prumo. 


Eu deixei a janela entreaberta.

Não pensando que voltarias.

Mas caso quisesses, não é? 

Minha opinião jamais saberias.

Manteria minha palavra coberta.

Agora, só mergulho onde dá pé. 


E soprou um vento frio.

Que refrescou meu olhar curioso,

Mexeu com meu humor, meus brios. 

De vez em quando, Deus acerta 

Muitas vezes, dano de ser teimoso. 


Eu deixei a janela entreaberta 

Pro amor correr solto.

Sem grilhões, fantasias ou desilusões. 

Não estou ficando louco,

Há um desejo que liberta, 

E prescinde de conselho ou sermões. 

 

Não é a entrada mais apropriada

Tampouco é uma melhor saída 

Não há expectativa criada 

Nem qualquer sinal de alerta

De uma nova afeição parida. 


Eu deixei a janela entreaberta 

Até dá pra ver um pedaço do céu 

De tudo que resta em meu espaço… 

Eu sei que quem nunca viu mel, 

Por mais pra frente e mente aberta,

Se atrapalha todo com melaço. 


E pela fresta passam mundos.

O que não e o que quero inteiro.

De poucas certezas me inundo,

Sei onde cada dúvida aperta.

Apaixonar? Só se for bem ligeiro. 


Eu deixei a janela entreaberta 

E além de você, só o gato debandou. 

Coloquei farelo para os passarinhos…

Não vieram, mas nem tudo se acabou

Pela fresta, tem a luz que liberta 

Nos passos que são dados de mansinho. 

Mais do Mesmo Alívio!!!