Eu deixei a janela entreaberta.
Queria ver seu voo.
Saber se já tinha rumo.
De ti eu não destoo.
Um passo sem pensar - na certa
Deixa tudo fora do prumo.
Eu deixei a janela entreaberta.
Não pensando que voltarias.
Mas caso quisesses, não é?
Minha opinião jamais saberias.
Manteria minha palavra coberta.
Agora, só mergulho onde dá pé.
E soprou um vento frio.
Que refrescou meu olhar curioso,
Mexeu com meu humor, meus brios.
De vez em quando, Deus acerta
Muitas vezes, dano de ser teimoso.
Eu deixei a janela entreaberta
Pro amor correr solto.
Sem grilhões, fantasias ou desilusões.
Não estou ficando louco,
Há um desejo que liberta,
E prescinde de conselho ou sermões.
Não é a entrada mais apropriada
Tampouco é uma melhor saída
Não há expectativa criada
Nem qualquer sinal de alerta
De uma nova afeição parida.
Eu deixei a janela entreaberta
Até dá pra ver um pedaço do céu
De tudo que resta em meu espaço…
Eu sei que quem nunca viu mel,
Por mais pra frente e mente aberta,
Se atrapalha todo com melaço.
E pela fresta passam mundos.
O que não e o que quero inteiro.
De poucas certezas me inundo,
Sei onde cada dúvida aperta.
Apaixonar? Só se for bem ligeiro.
Eu deixei a janela entreaberta
E além de você, só o gato debandou.
Coloquei farelo para os passarinhos…
Não vieram, mas nem tudo se acabou
Pela fresta, tem a luz que liberta
Nos passos que são dados de mansinho.