21 dezembro 2024

Escrita e subversão

Sempre estão na mesma frase.  

Seja por destino revolucionário, 

Ou por dever da poesia. 

O que mesmo que há de ser? 


Escrever o intratável.

Escrever a angústia do não.

Escrever passarinhos 

É um ato de heroísmo

Que afronta até o Cão. 


Escrever e subverter 

Como um ato de amor; 

Como um ato de clemência.

O ato de insubordinação 

Que do verso retira o rancor. 


Escrever o indisponível.

Escrever a asa de um querubim.

Escrever coloridas auroras 

É como me desnudar inteiro e  

Ativar (da satisfação) o estopim. 


Escrever para subversão

Sonhos

Intensidades

Sentidos

Coisas da contramão. 

13 dezembro 2024

Querer gritar. 

Soltar as bestas 

E ansiar o desaparecimento.


Espera! 

Aguardar secar 

Tudo que é de cimento. 


Deixar de berrar.

Paciência! 

Já que há pertencimento. 


Um passo calmo 

Daqui pra ali 

Consome todo sofrimento. 


Respira!

Conta o infinito. 

Ser já é o próprio alento. 

Décio Plácido, 13/12/24

11 dezembro 2024

O tempo é um cavalo desembestado 

Que tira e dá valor às coisas. 

Em poucos segundos,  

Não saberemos 

De nada 

Mais. 

04 dezembro 2024

O meteoro, na Terra, não cai 

E os valores já se esvaem. 

Os militares não caem 

E a esperança já se retrai. 


O meteoro, gente!, demora

Enquanto humanidade degringola.

Os políticos roubam de sola

E a paciência desde antes se evapora. 


O meteoro será que falhou? 

A natureza estamos rápido perdendo…

Os policiais sujam nosso show

Aqui, os homens nascem devendo


O meteoro será que não chegará?  

Já não mais há tantos Gils e Marleys…

Nada para os ricos bastará;

Querem roubar até aquilo que sei. 


O meteoro vem muito lento…

Já não há espaço para tanta fantasia 

E magistrados são punidos com aposentadoria.

Falta tudo: de pão e noção a unguento. 


O meteoro parece estar vindo de ré 

E as fake news nadam de braçadas

A pobreza não deixa de ser fomentada 

Já é difícil pro planeta se sustentar de pé. 


Será mesmo que virá o meteoro

A purgar o todo excedente?

Será mesmo que ele virá?

Haverá esconderijo pra inocente? 

04/12/24

29 novembro 2024

Passarinho

Queria escrever um passarinho.

Não o descrever,

Nem enumerar suas cores.

Nem o pintar em versos.

Mas dizer como me chega e

Que arrepio na espinha me traz. 


Queria escrever um passarinho. 

Palavras que voassem… 

Os versos bicando as flores,

Rimas fazendo o ninho,

Aconchegando os verbos como ovinhos,

Guardando o calor que me traz. 


Sentir a inexatidão do grassar por aí. 

Mesmo sem poder grava-lo,

Sem entender com os olhos 

E a alma se alegra não sei o porquê.

Dos rasantes, da elegância, da elevação. 

Do abstrato que toca meu coração. 


Escreveria feliz a ausência de matéria, 

Só um carimbo de impressão talvez.  

No traçado incerto dos voos

Amar como a destreza dos pousos. 

Queria escrever um passarinho 

E a liberdade de só existir de forma selvagem. 


18 novembro 2024

Eu rasguei a face do chão 

Com a palavra mais pesada 

Que saiu da minha alma. 

Aliviando a tensão indesejada 

De querer ser mais e mais. 


Os meus pés seguraram bem 

Os textos que tentavam me definir.

As frases mais ordinárias.

Não sei de reação mais solitária 

Que se contentar com o que se é. 


Meu peito finalmente se abriu 

Quando medi o tamanho de minha sombra

E belisquei carinhosamente o espelho. 

Enquanto as vozes que antes me esculpiam

Se desfaziam, me esqueciam… jaziam. 


Achei ter entendido o bardo inglês:

É necessário ser depois de um ter sido.  

Não ser essencialmente o que se falou.

Rever na carne o que já se esqueceu. 

Reler nos ditos: a potência se anunciou!

10 novembro 2024

O amor definiu meus passos. 

Verificou minha respiração.

Ele me fez falar em vão…

O amor destruiu meu cansaço!


O amor preencheu meus buracos,

Como asfalto quente no chão batido.

Ele disse que tudo mais era falido.

O amor limpou todos os cacos!


O amor rolou e me desdobrou.

Fez de mim um homem nobre,

Que a todo tempo te descobre…

O amor – bandido! – se insinuou! 


O Amor agitou minhas mãos no ar.

Fez de tudo para que me notasse…

Ordenou que o Tempo parasse.

O Amor queria me ouvir declamar.


O amor é uma idiossincrasia. 

Um instante secular num segundo.

Apaixona o são e o moribundo… 

O amor – graças! – é sem anestesia. 

Décio Plácido, 10/11/24

21 outubro 2024

Pedalar 

Sair de magrela

Pedal! 

Na cara, 

Ar. 

Na cara, 

Sol.

Descaramento dominical.


Filtro solar 

Camisa UV

Garrafa d’água 

Destravar a bike

Ajeita a corrente 

Prepara o selim

Ciclovia 

Vastidão de ir… 


Montar no camelo 

Troca de marcha 

Água de coco!

Nas mãos,

Freios.

Nas mãos.

A guia. 

Cárdio pago geral. 


Devolver a diversão

Caminho de casa

Filho

Na piscina. 

Filho

É água cristalina. 

Chama o táxi 

Que o dia já se finda. 

Décio Plácido, 20/10/24

16 outubro 2024

Pela inefável condição do espírito 

Não consigo lhe abrir as entranhas. 

Não posso precisar o que sinto.

É o suave (e profundo) que me apanha. 


Indefinido é o meu querer! 

O que coloco sobre a mesa

É uma mistura de riso e vísceras… 

O que houver de sagrado que me proteja. 


Etéreas são as palavras do mundo.

Delas ouço o contrário daquilo sou. 

Não tenho existência sem as letras 

E isso foi onde o zodíaco errou. 


Desconhecendo a matéria do espírito,  

Finjo que finjo ser tradutor bom e fiel 

Daquilo o que a boca cala;

Daquilo que não tem forma e se derrama como mel. 

 Décio Plácido, 16/10/24

14 outubro 2024

Tenho ímpeto de lascar o céu 

E abrir fendas no que daqui não se vê - 

No que daqui se sente com tanta peleja.

E escancaram meus olhos no cair do véu. 


O firmamento também se abre em espiral; 

E dançam imagens irreais nesta tela. 

Imagino quais seriam meus objeto e foco

Olhando o céu e acendendo uma vela. 


Tenho sonhos para análise do velho Freud,

De decifração truncada, salvo para as ninfas. 

Essas viagens internas são um triunfo, 

Mas também há um traço que me amofina.  


Neste desarrazoado reino de Morfeu,

Pode-se tudo e mais. Firmo lembranças 

De onde surge esse clarão tão insistente?  

Do mesmo lugar onde brotam as ondas do apogeu. 

Décio Plácido, 14/10/24

 

Mais do Mesmo Alívio!!!