Eu escrevo cantos
Para aplacar a falta
Pra não encharcar a fronha
Pra acordar cedo, disposto
E não ficar pelos cantos
Eu escrevo a presença
Para tornar real
Para não sofrer sozinho
Pra não ficar rouco
De reclamar pela ausência
Eu escrevo poemas
Pra sair do virtual
Para as palavras roçarem
Para que as perdas
Não sejam temas da quarentena
Eu apenas escrevo
Para alguém ler, talvez
Pra sobreviver, é certeiro
Pra continuar amando, eu
Escrevo nos dias que não conto.
Eu escrevo pra transbordar
Para não me deixar
Para não me ausentar
Para virar a mesa do tédio
E negociar viagens astrais.
28 abril 2020
17 abril 2020
Quatentena 3⁰
Sei que não pode vir
Te respeito e
Aos sábios do mundo
Sei que não pode vir
E que o tempo
É de um esperar profundo
Vou desligar a TV
Não há o que insistir
Já não tenho livros pra ler
Vou inventar poemas
Para que venha me visitar
Sei que não pode vir
Mas a nossa banda - não o bastante - larga
Pode a saudade aplacar
Quando não posso
Tocar, só contemplar, teu amor.
Sei que não pode vir
Sei do que você se ocupa
Sabe sempre como estou
Inventamos outra moda
Delineamos outra forma de amar
Quando está com a razão
D'eu não fugir
D'eu não chorar.
Sei, muito, que ainda não pode vir
Mas você é tão hábil quando me olha
Que por segundos
A tela fria que nos separa
Vira algo ainda do porvir
Um delírio de amantes
Um desejar fecundo
Sei que não pode vir
Que é tempo de espera
Somos sóbrios
Somos tantos, e não sós que
Não fazemos Quimera
Quando sei mesmo que não pode vir
Percebo que algo de ti
Sempre ficou a lembrar
Que você é Sol
Me iluminando ao mar.
11 abril 2020
Quarentena 2⁰
Quando quero te ver
Nestes dias tão estranhos
Fecho os olhos, prendo a respiração
E te vejo tão grande e colorida
Num infinito e seus tamanhos
Quando penso em você
Nestes dias de tanto cortisol
Me deito e abraço o travesseiro
E te sinto tão perto
E a solidão é revisitada pelo desejo
Quando preciso de você
Nestes de tão pouco abraços
Mergulho embaixo do chuveiro
E sua presença são as gotas que descem
E me agarro à água sem embaraço
Quando tenho algo pra dizer
Que ultrapassa as novas tecnologias
E só existe num sussurro no ouvido
Me debruço na janela
E convenço os passarinhos em doce melodia.
Quando quero você
Sei que tenho a nós.
Nestes dias tão estranhos
Fecho os olhos, prendo a respiração
E te vejo tão grande e colorida
Num infinito e seus tamanhos
Quando penso em você
Nestes dias de tanto cortisol
Me deito e abraço o travesseiro
E te sinto tão perto
E a solidão é revisitada pelo desejo
Quando preciso de você
Nestes de tão pouco abraços
Mergulho embaixo do chuveiro
E sua presença são as gotas que descem
E me agarro à água sem embaraço
Quando tenho algo pra dizer
Que ultrapassa as novas tecnologias
E só existe num sussurro no ouvido
Me debruço na janela
E convenço os passarinhos em doce melodia.
Quando quero você
Sei que tenho a nós.
Décio Plácido, 11.04.2020
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