18 novembro 2024

Eu rasguei a face do chão 

Com a palavra mais pesada 

Que saiu da minha alma. 

Aliviando a tensão indesejada 

De querer ser mais e mais. 


Os meus pés seguraram bem 

Os textos que tentavam me definir.

As frases mais ordinárias.

Não sei de reação mais solitária 

Que se contentar com o que se é. 


Meu peito finalmente se abriu 

Quando medi o tamanho de minha sombra

E belisquei carinhosamente o espelho. 

Enquanto as vozes que antes me esculpiam

Se desfaziam, me esqueciam… jaziam. 


Achei ter entendido o bardo inglês:

É necessário ser depois de um ter sido.  

Não ser essencialmente o que se falou.

Rever na carne o que já se esqueceu. 

Reler nos ditos: a potência se anunciou!

10 novembro 2024

O amor definiu meus passos. 

Verificou minha respiração.

Ele me fez falar em vão…

O amor destruiu meu cansaço!


O amor preencheu meus buracos,

Como asfalto quente no chão batido.

Ele disse que tudo mais era falido.

O amor limpou todos os cacos!


O amor rolou e me desdobrou.

Fez de mim um homem nobre,

Que a todo tempo te descobre…

O amor – bandido! – se insinuou! 


O Amor agitou minhas mãos no ar.

Fez de tudo para que me notasse…

Ordenou que o Tempo parasse.

O Amor queria me ouvir declamar.


O amor é uma idiossincrasia. 

Um instante secular num segundo.

Apaixona o são e o moribundo… 

O amor – graças! – é sem anestesia. 

Décio Plácido, 10/11/24

21 outubro 2024

Pedalar 

Sair de magrela

Pedal! 

Na cara, 

Ar. 

Na cara, 

Sol.

Descaramento dominical.


Filtro solar 

Camisa UV

Garrafa d’água 

Destravar a bike

Ajeita a corrente 

Prepara o selim

Ciclovia 

Vastidão de ir… 


Montar no camelo 

Troca de marcha 

Água de coco!

Nas mãos,

Freios.

Nas mãos.

A guia. 

Cárdio pago geral. 


Devolver a diversão

Caminho de casa

Filho

Na piscina. 

Filho

É água cristalina. 

Chama o táxi 

Que o dia já se finda. 

Décio Plácido, 20/10/24

16 outubro 2024

Pela inefável condição do espírito 

Não consigo lhe abrir as entranhas. 

Não posso precisar o que sinto.

É o suave (e profundo) que me apanha. 


Indefinido é o meu querer! 

O que coloco sobre a mesa

É uma mistura de riso e vísceras… 

O que houver de sagrado que me proteja. 


Etéreas são as palavras do mundo.

Delas ouço o contrário daquilo sou. 

Não tenho existência sem as letras 

E isso foi onde o zodíaco errou. 


Desconhecendo a matéria do espírito,  

Finjo que finjo ser tradutor bom e fiel 

Daquilo o que a boca cala;

Daquilo que não tem forma e se derrama como mel. 

 Décio Plácido, 16/10/24

14 outubro 2024

Tenho ímpeto de lascar o céu 

E abrir fendas no que daqui não se vê - 

No que daqui se sente com tanta peleja.

E escancaram meus olhos no cair do véu. 


O firmamento também se abre em espiral; 

E dançam imagens irreais nesta tela. 

Imagino quais seriam meus objeto e foco

Olhando o céu e acendendo uma vela. 


Tenho sonhos para análise do velho Freud,

De decifração truncada, salvo para as ninfas. 

Essas viagens internas são um triunfo, 

Mas também há um traço que me amofina.  


Neste desarrazoado reino de Morfeu,

Pode-se tudo e mais. Firmo lembranças 

De onde surge esse clarão tão insistente?  

Do mesmo lugar onde brotam as ondas do apogeu. 

Décio Plácido, 14/10/24

 

02 outubro 2024

Escrevo porque o amor não basta. 

Não são suficientes os olhares devotados; e

Abraços carinhosos se mostram minguados…

As letras gravadas são de outra casta. 


Escrevo para transpor o gozo. 

Não é razoável textos e corpos

Disputando espaços inefáveis. 

Um barco para muitos portos. 


Na tela na qual desenho poemas

Deixo muito mais que o coração. 

Se eu fosse um homem de fé, 

Diria que a espírito se mostra na pena. 


Escrevo porque não basta o amor; e

Este não basta porque já sou inteiro.

E só a poesia me faz explodir feito estrela

Numa busca idílica de viver sem dor. 

Décio Plácido, 02/10/24

01 outubro 2024

 Escrever é o alivio

Com o qual 

Meu espírito aquiesce 

Como natural. 


É o instante que silencio.

Destravo a alma. 

É quando tudo opera

Como um vento fresco e vadio. 


Despir-me assim 

Também é purgar. 

Um silencioso depurar -

… Cascas caídas ao fim. 


Mesmo que eu escreva pétalas

E todos leiam espinhos,  

Para não morrer vivo, 

Sigo insistindo neste caminho. 

25 setembro 2024

Vejo meu filho dormir:

Ele é a parte de mim 

Que mais gosto e admiro.


Contemplo o que há por vir.


O plácido do seu nome 

Está em seu rosto adolescente.


Que assim siga a vida.

Que assim ele a experimente. 


Vejo meu filho dormir e

Lembro de cada ninada.

Cada história contada.


Emoção foi e é a caminhada.


Talvez ele já tenha sonhos de jovens;

Ou haja uma ebulição interna…


Mas meus olhos hão de ter coragem 

Pra vê-lo fazer a própria viagem. 

Mais do Mesmo Alívio!!!