Mais do Mesmo Alívio!!!

13 março 2018

Temporada de pedras

Pinga
Vejo gotejar
Percebo escancarar as entranhas
Quando desce pelo equipo

Tramadol
Morfina
Umas doses de calma
Num corpo que grita

Enfermeiras
Luzes acesas
Afere a pressão, mede temperatura
E meu corpo é só uma massa

Estar no hospital é tão mortal quanto nascer

Pinga antibiótico
Aumenta o antinflamatório
A prisão de ventre
Dá voz a minha dor inconsciente

Qual o aprazamento?
- Pergunto para a pitonisa
O médico não mudou
E os novos bisturis invadem meus ouvidos

Nego a gravidade
Barganho com os Orixás
Aceito a dor nas costas
Converso com meus cálculos renais

Estar no hospital é tão entediante quanto morrer

Pinga
Pinga, enfermeira
Um pingo de humanidade
Neste corpo já tão sem vontades

Goteja lágrimas
Espera o maqueiro
O roupão não cabe
Esse quarto pequeno não cabe qualquer vaidade

Desce pra tomo
Ultrassom e raio x
E o frio só não congela
A tortura de sofrer por qualquer dor

Estar no hospital é tão esquizofrenizante quanto todo dissabor.
Décio Plácido Neto, 13.03.2018

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